Surdez, língua de sinais e cognição: análise das mútuas implicações

Resumo

Tem como propósito analisar os resultados de pesquisas realizadas com crianças surdas acerca do desenvolvimento cognitivo, com base na teoria psicogenética de Jean Piaget. A primeira teve como objetivo investigar o desenvolvimento das estruturas de classificação, seriação e conservação do número em crianças surdas em idade pré-escolar. A segunda avaliou o desenvolvimento de crianças surdas com idade variando entre 12 e 14 anos, ou seja, as estruturas referentes aos períodos operatório-concreto e operatório-formal, segundo a teoria psicogenética. Uma terceira pesquisa, desenvolvida sob a orientação de uma das pesquisadoras, tinha como objetivo verificar se as crianças surdas educadas sob a concepção bilíngüe apresentavam diferenças no desenvolvimento cognitivo em relação àquelas examinadas nas duas anteriores. Todas as três pesquisas foram desenvolvidas a partir do método clínico tal como idealizado por Piaget. A análise dos resultados nos permite afirmar que a tese piagetiana da insuficiência da linguagem para a construção das estruturas cognitivas está confirmada em nossos estudos, mas, por outro lado, podemos dizer que os resultados nos apontam para a existência de outros fatores que precisam ser compreendidos no desenvolvimento cognitivo do surdo. A adoção da língua de sinais é um avanço na concepção da surdez e, com certeza, permite ao surdo ampliar seu universo de relações afetivas e sociais com seus pares, mas entendemos que a adoção da abordagem bilíngüe não é a solução definitiva para a educação dos surdos. Apesar de ser imprescindível que os surdos aprendam, o mais cedo possível, uma língua de sinais, a sua educação, nos parece, necessita ainda de um cuidado especial. Palavras-chave: surdez; desenvolvimento cognitivo dos surdos; bilingüismo. Abstract Results from research with deaf children and their cognitive development are analyzed by Piaget's psychogenetic theory. Whereas the first research investigated the development of classification, series listing and number conservation in pre-school deaf children, the second evaluated the development of 12-14-year-old deaf children, or rather, the structures comprising the concrete operatory and formal operatory periods of the psychogenetic theory. A third research, undertaken by one of the authors, verified whether deaf children who received bilingual education showed any differences in cognitive development in contrast to those in the former two researches. The three researches have been developed according to Piaget's clinical method. Results show that our analysis confirmed Piaget's thesis of language insufficiency for the construction of cognitive structures. On the other hand, results also indicate other factors that must be understood with regard to deaf people's cognitive development. The use of the natural language for the deaf, or sign language, is a landmark in the knowledge on deafness and will help deaf people to broaden their affective and social relationships with their peers. The adoption of the bilingual approach will not be the definite solution for the education of deaf people. Although deaf people must learn sign language as early as possible, special care should be dispensed in the course of their educational formation. Keywords: deafness; cognitive development of deaf people; bilingualism.