Investigar a docência e procurar concretamente articular a prática à teoria revelouse campo fértil na formação de professores e fonte inspiradora de estudos nos cursos que os formam. A pesquisa em docência pode alterar a formação do professor da maneira como vem sendo feita, pois favorece reflexões continuadas sobre as possibilidades e os limites presentes na educação escolar – no caso desta pesquisa, na educação escolar de adultos com pouca escolarização. Assim, foi seu objetivo investigar continuamente situações naturais de sala de aula envolvendo resolução de problemas matemáticos. O universo da pesquisa foi constituído por alunos e professores do Programa de Educação de Adultos (PEA) da Faculdade de Educação da USP, que construíram o desenvolvimento da investigação. Os alunos adultos foram analisados quanto a seus desempenhos cognitivos expressos pela oralidade ou pela escrita na resolução de problemas. Constatou-se a relevância do processo de escolarização para o avanço no domínio dos registros formais da Matemática desejado pelos alunos, dado seu prestígio e uso na sociedade em geral. Descobriu-se, também, analisando os alunos do PEA, de classes iniciais, intermediárias e finais, funcionários do campus com pouca escolaridade, em seus setores de trabalho, que eles não são orientados a usar os registros formais aprendidos na educação escolar. O trabalho parece bastante mecânico e rotineiro, sem intervenção no processo de desenvolvimento – existe apenas cobrança de resultados e conseqüentes punições. No entanto, os alunos convivem com estruturas operatórias construídas espontaneamente em suas vidas cotidianas e, posteriormente, com os registros formais apresentados pela educação escolar. Eles optam por utilizar um ou outro, dependendo da situação social em que estiver inserido, mas convivem com os dois. Os professores usualmente desconhecem a heterogeneidade de estilos cognitivos, avaliam os sujeitos como incompetentes e com dificuldades para aprender, subestimando seus potenciais cognitivos. E, sendo assim, a organização do trabalho pedagógico deixa de ajudar os alunos a reconstruírem os conhecimentos; muitas vezes necessitam apenas nomeá-los, pois já os internalizaram com a própria vivência. A complexidade cognitiva envolvida na construção/reconstrução de conhecimentos através da educação escolar sugere estudos aprofundados. Redimensionar os conteúdos escolares, aproximá-los mais do vivido dos alunos, é ponto de partida para uma relação dialógica que favoreça a dinâmica dessas articulações.