Formação de professores e a questão religiosa
Resumo
O Brasil é um Estado laico, mas pouco secularizado. A questão religiosa está presente nas diferentes instituições públicas de forma mais ou menos explícita, inclusive no espaço escolar. A ausência de normas e leis que regulamentem a interface entre religião e política, crença e saber, espaço público e privado abre uma lacuna para um agir criativo e individual. Nesse contexto, este artigo analisa dois momentos da aprendizagem profissional docente: o primeiro deles, a formação inicial universitária, e o segundo, a formação em exercício no que tange à questão religiosa. A Sociologia da Educação foi mobilizada como quadro teórico para a análise de dados provenientes de pesquisas qualitativas (questionários e entrevistas). Constata-se que a religião é um dos recursos presentes no desenvolvimento profissional docente. Professores religiosos não abandonam suas crenças, quando estão se formando ou quando atuam, o que indica um processo de hibridização entre conhecimento secular e conhecimento religioso.
Downloads
Referências
ALMEIDA, R. A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo. Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 50, e175001, 2017. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8650718. Acesso em: 7 mar. 2022.
ANDRADE, M. A religião entra na escola. Por quê? Como? Ocupando qual lugar? In: COLÓQUIO LUSO-BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO, 4., 2014, Porto. Anais... Porto: Universidade do Porto, 2014. p. 99-13.
BARDIN, L. L’analyse de contenu. Paris: PUF, 1977.
BOURDIEU, P. Esboço de uma teoria da prática. In: ORTIZ, R. (Org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 46-81.
BOURDIEU, P. Compreender. In: BOURDIEU, P. (Coord.). A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 693-713.
BRANCO, J. C.; CORSINO, P. O discurso religioso em uma escola de educação infantil: entre o silenciamento e a discriminação. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 9, n. 3, p. 128-142, 2015.
BRASIL. Decreto nº 119-A, de 7 de janeiro de 1890. Decretos do governo provisório da República dos Estados Unidos do Brazil de 1890, Rio de Janeiro, v. 1, p. 10, jan. 1890.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, [2018]. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 10 ago. 2022.
CAMARGO, L. P. O silenciamento das professoras e a socialização de gênero no cotidiano da educação infantil: relações entre docência e religião? 2019. 159 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019.
CAMURÇA, M. A. Os “sem religião” no Brasil: juventude, periferia, indiferentismo religioso e trânsito entre religiões institucionalizadas. Estudos de Religião, São Bernardo, v. 31, n. 3, p. 55-70, set./dez. 2017.
CAMURÇA, M. A. Um poder evangélico no estado brasileiro? Mobilização eleitoral, atuação parlamentar e presença no governo Bolsonaro. Revista Nupem, Campo Mourão, v. 12, n. 25, p. 82-104, jan./abr. 2020.
CLOT, Y. Travail et pouvoir d’agir. Paris: PUF, 2008.
CUNHA, L. A. Panorama dos conflitos recentes envolvendo a laicidade do estado no Brasil. In: D’AVILA-LEVY, C. M.; CUNHA, L. A. (Org.). Embates em torno do Estado laico. São Paulo: SBPC, 2018. p. 183-282.
CURY, C. R. J. Ensino Religioso na escola pública: o retorno de uma polêmica recorrente. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 27, p. 183-191, set./dez. 2004.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
DUBET, F.; MARTUCCELLI, D. À l’école: sociologie de l’expérience scolaire. Paris: Seuil, 1996.
FISCHMANN, R. et al. Breve visão introdutória do tema. In: FISCHMANN, R. (Org.). Ensino religioso em escolas públicas: impactos sobre o Estado laico. São Paulo: Factash, 2008. p. 9-22.
GARCÍA, C. M. Formação de professores para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, 1999.
GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
KNOBLAUCH, A. Formação docente e religião. Ciências da Religião: História e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 65-88, jul./set. 2015a.
KNOBLAUCH, A. Religião e laicidade: desafios para a formação docente. In: EDUCERE CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 12., 2015, Curitiba. Anais... Curitiba: PUCPR, 2015b. p. 2159-2171.
KNOBLAUCH, A. Religião, formação docente e socialização de gênero. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 899-914, jul./set. 2017.
LANTHEAUME, F. Professores e dificuldades do ofício: preservação e reconstrução da dignidade profissional. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 146, p. 368-387, maio/ago. 2012.
MAFRA, C. Distância territorial, desgaste cultural e conversão pentecostal. In: ALMEIDA, R.; MAFRA, C. (Org.). Religiões e cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Terceiro Nome, 2009. p. 69-89.
MAK, D. A presença da religião em ações docentes de uma escola pública de educação infantil. 2014. 95 f. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.
MARIN, A. J. Propondo um novo paradigma para formar professores a partir das dificuldades e necessidades históricas nessa área. In: REALI, A. M. M. R.;
MIZUKAMI, M. G. N. (Org.). Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: EdUSFCar, 1996. p. 153-165.
MARIZ, C. L. Alcoolismo, gênero e pentecostalismo. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 80-93, maio 1994.
PIERUCCI, A. F. O. Representantes de Deus em Brasília: a bancada evangélica na Constituinte. Ciências Sociais Hoje, São Paulo, n. 11, p. 104-132, 1989.
PRANDI, R. Converter indivíduos, mudar culturas. Revista Tempo Social, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 155-172, nov. 2008.
SANTOS, M. G. Os limites do Censo no campo religioso brasileiro. Comunicações do Iser, Rio de Janeiro, n. 69, p. 18-33, set. 2014.
SETTON, M. G. J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 20, p. 60-70, maio/ago. 2002.
SETTON, M. G. J. Prática docente: algumas questões do campo sociológico. Intermeio, Campo Grande, v. 17, n. 33, p. 175-182, jan./jun. 2011.GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
KNOBLAUCH, A. Formação docente e religião. Ciências da Religião: História e Sociedade, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 65-88, jul./set. 2015a.
KNOBLAUCH, A. Religião e laicidade: desafios para a formação docente. In: EDUCERE CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 12., 2015, Curitiba. Anais... Curitiba: PUCPR, 2015b. p. 2159-2171.
KNOBLAUCH, A. Religião, formação docente e socialização de gênero. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 899-914, jul./set. 2017.
LANTHEAUME, F. Professores e dificuldades do ofício: preservação e reconstrução da dignidade profissional. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 146, p. 368-387, maio/ago. 2012.
MAFRA, C. Distância territorial, desgaste cultural e conversão pentecostal. In: ALMEIDA, R.; MAFRA, C. (Org.). Religiões e cidades: Rio de Janeiro e São Paulo. São Paulo: Terceiro Nome, 2009. p. 69-89.
MAK, D. A presença da religião em ações docentes de uma escola pública de educação infantil. 2014. 95 f. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.
MARIN, A. J. Propondo um novo paradigma para formar professores a partir das dificuldades e necessidades históricas nessa área. In: REALI, A. M. M. R.;
MIZUKAMI, M. G. N. (Org.). Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: EdUSFCar, 1996. p. 153-165.
MARIZ, C. L. Alcoolismo, gênero e pentecostalismo. Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 80-93, maio 1994.
PIERUCCI, A. F. O. Representantes de Deus em Brasília: a bancada evangélica na Constituinte. Ciências Sociais Hoje, São Paulo, n. 11, p. 104-132, 1989.
PRANDI, R. Converter indivíduos, mudar culturas. Revista Tempo Social, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 155-172, nov. 2008.
SANTOS, M. G. Os limites do Censo no campo religioso brasileiro. Comunicações do Iser, Rio de Janeiro, n. 69, p. 18-33, set. 2014.
SETTON, M. G. J. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 20, p. 60-70, maio/ago. 2002.
SETTON, M. G. J. Prática docente: algumas questões do campo sociológico. Intermeio, Campo Grande, v. 17, n. 33, p. 175-182, jan./jun. 2011.
SETTON, M. G. J. Socialização e cultura: ensaios teóricos. São Paulo: Annablume, 2012.
SETTON, M. G. J. Socialização e individuação: a busca pelo reconhecimento e a escolha pela educação. São Paulo: Annablume, 2016.
TEIXEIRA, F. Campo religioso em transformação. Comunicações do Iser, Rio de Janeiro, n. 69, p. 34-45, set. 2014.
VALENTE, G. A presença oculta da religiosidade na prática docente. 2015. 108 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
VALENTE, G. As práticas docentes e a questão religiosa: elementos de comparação entre Brasil e França. 2019. 294 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
VALENTE, G. Educação, docência e laicidade: realidades escolares na França e no Brasil. Curitiba: Appris, 2021.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A aceitação do texto implica automaticamente a cessão de seus direitos autorais ao Inep.
A revista Em Aberto adota a licença CC-BY.
A reprodução total ou parcial dos textos da revista é permitida desde que citada a fonte de publicação original e o link para a licença CC BY 4.0 e que sejam indicadas eventuais alterações no texto.